O Banco Central Europeu (BCE) confirmou hoje, 24 de julho de 2025, a manutenção das taxas de juro diretoras inalteradas, interrompendo uma série de sete descidas consecutivas. A taxa de facilidade permanente de depósito mantém-se nos 2%, a taxa de refinanciamento em 2,15% e a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez em 2,40%.
Esta decisão representa a primeira pausa no ciclo de cortes iniciado em setembro de 2024, após o BCE ter reduzido as taxas desde um máximo histórico de 4% para os atuais 2%. A inflação situa-se atualmente no objetivo de médio prazo de 2%, criando condições para esta interrupção no ciclo de flexibilização monetária.
Unanimidade na Previsão da Pausa
Os analistas demonstraram uma unanimidade excecional nas suas previsões para a reunião de julho. Todos os 84 economistas consultados pela Reuters concordaram que o BCE manteria a taxa de depósitos nos 2%. O BPI Research indicou que "é praticamente certo que o BCE irá manter as taxas de jará a reunião de julho a primeira do ano em que não são anunciados cortes de juros. Os mercados têm a expectativa de que a 'depose' irá manter nos 2%, com uma probabilidade próxima de 100%".
Perspetivas para o Futuro
Apesar da pausa confirmada, os analistas não fecham completamente a porta a novos estímulos monetários. Mais de metade dos economistas inquiridos (58,3%) antecipam que o BCE efetue mais um corte de 25 pontos base ainda este ano, levando a taxa de depósitos para 1,75%. Esta redução seria deixada para depois do verão, prevendo-se uma possível decisão em setembro ou dezembro.
Objetivo de Inflação Atingido
O principal fator que sustenta a decisão de manter as taxas é o facto de a inflação ter regressado ao objetivo de 2% estabelecido pelo BCE. Em junho de 2025, a taxa de inflação na zona euro foi exatamente de 2%, confirmando que a meta de médio prazo foi atingida. Christine Lagarde, presidente do BCE, confirmou que "estamos a 2%, é a meta que temos tido e é a projeção que a nossa equipa indica para o médio prazo".
Taxa em Território Neutro
Com a taxa de depósitos nos 2%, o BCE encontra-se no meio do intervalo considerado "neutro" (entre 1,75% e 2,25%), onde as taxas nem restringem nem estimulam excessivamente a economia. Esta posição confere ao banco central alguma flexibilidade para responder a desenvolvimentos económicos futuros.
Três Obstáculos Principais
A análise dos mercados identifica três ventos contrários que pesam sobre a decisão do BCE:
Tensões Comerciais: A ameaça de tarifas norte-americanas de até 30% sobre exportações europeias altera os cenários preparados pelo BCE. Como refere Mohit Kumar do Jefferies, "há incerteza considerável sobre o impacto das tarifas no crescimento e na inflação europeia".
Valorização do Euro: A moeda única acumulou uma valorização de 13,5% face ao dólar desde o início do ano. Esta fortaleza do euro reduz o preço das importações europeias e pressiona a inflação em baixa.
Divisões no Conselho do BCE: Enquanto Isabel Schnabel insiste que "a fasquia para mais um corte é muito alta" e Mário Centeno refere que "não há pressa" para descer os juros, outros governadores alertam para riscos de inflação abaixo de 2% se o euro continuar a ganhar terreno.
A pausa está alinhada com a nova estratégia de política monetária apresentada pelo BCE no início de julho, que reconhece "a existência de um ambiente estruturalmente mais incerto e volátil, defendendo a necessidade de ter uma capacidade de atuação flexível". Esta abordagem permite ao BCE manter uma postura "dependente dos dados e reunião a reunião", sem se comprometer previamente com uma trajetória de taxas específica.
Próximas Reuniões e Expectativas
O calendário das próximas reuniões do BCE inclui encontros em:
Para estas reuniões, as expectativas centram-se numa possível redução final de 25 pontos base até ao final do ano, que deixaria a taxa de depósitos nos 1,75%. Esta redução seria "preventiva e em resposta à alta incerteza geopolítica e aos riscos de queda sobre a atividade económica".
Resiliência Económica
O BCE reconhece que a economia tem sido globalmente resiliente num enquadramento mundial difícil. Nos primeiros meses do ano, registou-se um crescimento mais forte do que o esperado, embora as perspetivas para o resto do ano sejam mais moderadas devido à incerteza geopolítica.
Mercado de Trabalho Robusto
As finanças da maioria das pessoas permanecem sólidas, com muitas pessoas empregadas e salários a aumentar a bom ritmo. Esta situação permite às famílias gastar dinheiro em bens e serviços e investir na compra de casa, sustentando a procura interna.
Abrandamento das Pressões Inflacionistas
As pressões internas sobre os preços continuaram a abrandar, com o crescimento mais lento dos salários, criando condições favoráveis para a estabilização da inflação no objetivo de 2%.
O BCE mantém-se "determinado a assegurar que a inflação estabiliza no seu objetivo de 2% a médio prazo". A instituição seguirá uma abordagem que depende dos dados económicos e financeiros disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária.
A pausa anunciada não significa um fim de ciclo da atual política monetária, mas antes uma reordenação do calendário. Metade dos economistas consultados pela Bloomberg admite que o BCE pode esperar até dezembro sem que o mercado conclua que o alívio acabou, proporcionando margem de manobra para observar novos dados.
Esta suspensão dos cortes reflete, portanto, uma estratégia prudente face a um ambiente excecionalmente incerto, mantendo a taxa diretora em 2% como um ponto de equilíbrio que permite flexibilidade futura nas decisões de política monetária.